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Jornada e Permacultura

Por que, afinal, vamos para uma fazenda ecológica? Como enxergamos a relação entre permacultura e a Jornada Social?

Bem, precisamos confessar que, às vezes, essa rede de conexões que vai se formando diante de nós não se mostra de forma muito organizada. E, em um primeiro momento, compreendemos, eufóricos, todas essas conexões sem saber, no entanto, organizá-las e explicá-las de forma clara.

Cada uma das jornadas desperta questões individuais e coletivas; um emaranhado de perguntas sobre a forma como nos relacionamos com os outros, sobre o modo como lidamos com os sentimentos, sobre nossos padrões de consumo, sobre nossa relação com o alimento, com a cidade, com o trabalho, com o trânsito, com o lazer, com a saúde do corpo e da mente. Com o passar do tempo, o que foi se revelando como elo constante entre todas essas questões foi a temática da sustentabilidade.

Os remédios para alergia, para as dores, para dormir, para acordar, para ter energia, para emagrecer, para complementar a alimentação pobre em nutrientes. Sacolas plásticas das compras na farmácia, no mercado, nas lojas baratas que cabem no bolso e que nos fazem fechar os olhos para as relações de trabalho que garantem o precinho.

O desfiladeiro da desigualdade social e da falta de informação que provoca vertigem. As pequenas agressões de cada dia. As pessoas nas ruas. As florestas que queimam. A proteção que a gente vai desenvolvendo para não perder partes do coração cada vez que uma criança vem vender um paninho de prato enquanto tomamos um sorvete, um café ou uma bebida em qualquer lugar bacana.

Não dá mais para ligar o ar condicionado, subir o fator de proteção do protetor solar, subir o muro de proteção do prédio. A violência. A miséria. A crise de refugiados. A queda do número de abelhas. O planeta terra não comporta que a humanidade viva assim. A conta não fecha.  Por isso, para que a gente viva assim, uma outra parte da humanidade precisa viver com menos. BEM menos.

Pensar nisso tudo é tão desesperador que chega a dar dor de barriga. Convenhamos, não é fácil se assumir como co-responsável por eventos, fenômenos e circunstâncias que, racionalmente, nós já aprendemos a reconhecer como insuportáveis. E seria fácil ser tragado por um pessimismo indissolúvel, diante de tantos desafios. Mas, finalmente, chegamos ao ponto das boas notícias: Tem muita gente muito fera subvertendo essa realidade que parece não ter saída.

E não é que essa galera esteja inventando coisa muito nova não: a aposta é encontrar na natureza a saída para tudo isso. O planeta é tão magnífico que ele já tem as estruturas mais refinadas, mais elaboradas, com capacidades extraordinárias para se regenerar. Não só, mas, além disso, a natureza ainda é capaz de alicerçar revoluções sócio culturais.

Quando visitamos uma comunidade que não tem estrutura física, cujas casas não têm banheiros, logo pensamos em construí-los. E então, percebemos que a comunidade não tem recursos para adquirir os materiais de construção necessários. Logo, propomos uma solução que passe pela construção conjunta de uma solução: nós arrecadamos o dinheiro e a comunidade nos recebe para, juntos, realizarmos as construções.

Essa solução parte de um desejo sincero de contribuir para a melhoria na qualidade de vida daqueles que nos recebem durante a jornada. Essa solução é construída em conjunto e conta com os esforços de todos. Mas ela está inserida em uma determinada lógica que perpetua uma realidade de escassez. Ao repensarmos essa estrutura, nos deparamos com uma coisa chamada permacultura.

Os instrumentos de permacultura permitem que cada um reveja, dentro das suas possibilidades, práticas e costumes que afetam o ambiente, seja ele o residencial, o de trabalho ou urbano. Essas ferramentas podem ser incorporadas respeitando os diferentes tempos que cada um tem para mudar um hábito consolidado. Mas, uma vez que novos costumes e práticas passam a vigorar, eles se esticam para beneficiar todo um entorno.

As ferramentas de bioconstrução permitem que comunidades ergam escolas, casas, a partir dos materiais disponíveis naquele local. Uma vez adquirido esse conhecimento, as pessoas podem reproduzi-lo e aperfeiçoá-lo cada vez mais, ganhando maior autonomia com relação às necessidades impostas pelo sistema conhecido até então.

Quando um morador de um prédio adota um sistema de compostagem, ele pode partilhar o adubo produzido com outros moradores, além de propor a ampliação do sistema para o condomínio, o que aumenta o senso de coletividade entre os moradores, que se envolvem em um projeto que beneficia todos aqueles que se envolverem, sem gerar qualquer prejuízo aos que não quiserem.

A preocupação com alimentação orgânica e saudável, aliada ao desejo de não adquirir embalagens passa, necessariamente, pela valorização do trabalho de pequenos produtores, o que envolve debates sobre remuneração do trabalho do pequeno agricultor, questões políticas sobre reforma agrária..

O olhar para a saúde pública é atravessado, inevitavelmente, pelo tema da prevenção, assim como a preocupação com uma medicina que medicaliza absolutamente tudo. E o cuidado com a saúde do corpo passa pela alimentação, passa pela qualidade do meio ambiente urbano, pela mobilidade, pelo acesso à cultura.

TODAS essas questões estão costuradas pela linha da sustentabilidade. A busca por soluções que, ao menos, dialoguem com a questão ambiental se conectam em uma coerência maior, justamente porque acessam uma frequência que atua sobre tudo e que beneficia todos que estão ao redor.

E é por isso que a Jornada Social escolhe, nessa edição, mergulhar nesse tema, para incorporar algumas das ferramentas oferecidas pela permacultura, trazendo esse conhecimento para todas as parcerias futuras, além da vida de cada participante.

Fri, 26 April 2024 18 Nisan 5784