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Shearim - Encontro de Rabinas Masorti

Rabina Fê

Nesta última semana eu tive uma oportunidade incrível que gostaria de compartilhar com todos. Eu fui aos Estados Unidos para um encontro promovido pela Assembléia Rabínica (RA) do Movimento Masorti. O encontro celebrava os 40 anos da primeira hashmachá (ordenação rabínica) de uma rabina.

Em 1985 a primeira rabina foi formada. Amy Eilberg, se formou muito rápido depois da decisão de autorizar as mulheres a ingressarem no rabinato porque ela já tinha feito muitos cursos e faltava muito pouco para completar a graduação. Ao mesmo tempo, outras mulheres tinham decidido que queriam ser rabinas e não poderiam esperar. Se formaram na HUC, seminário rabínico reformista, e depois da aceitação feminina no rabinato, vieram para a Assembléia Rabínica Masortí. Outras não quiseram nem entrar no curso por não permitirem a formação rabínica de mulheres. Várias destas estavam comigo durante este encontro da semana passada.

Mas, antes de chegar no Camp Ramah Darom, onde o encontro foi realizado, eu estive como Scholar in Residence em uma sinagoga em Charleston, na Carolina do Sul. Esta oportunidade também ocorreu por organização da RA, para facilitar a vinda ao encontro de pessoas que viriam de fora dos EUA. Lá eu tive a oportunidade de falar durante os serviços de sexta à noite, sábado de manhã, um shiur (aula) sábado e domingo, além de uma havdalá para marcar o final do Shabat. A comunidade de Charleston estava muito feliz de poder conhecer um pouco do judaísmo do Brasil e de escutar uma voz diferente.

Depois do final de semana, viajei para Atlanta e de lá para o Camp Ramah. Sentada ao meu lado no ônibus estava uma rabina desta primeira camada que enfrentou muito preconceito na sua formação. Mas além disso, de repente, me dei conta de que a teshuvá (responsa) relacionada ao tempo que deveria ser esperado por uma mulher para voltar a ter relacionamento sexual com o marido que eu sigo, e oriento na Shalom, é dela. Em uma visão clássica, entende-se que deve-se esperar 7 dias depois do final da menstruação. Esta rabina defendeu que poderia ser apenas um dia. Esta é a teshuvá que eu sigo, e ela estava sentada ao meu lado. Foi muito emocionante poder conversar com ela, que mesmo sendo uma celebridade para mim, era uma “pessoa normal”.

Chegando ao lugar do encontro, comecei a conhecer as mulheres incríveis que estavam compartilhando este momento comigo. Mulheres que foram das primeiras camadas de rabinas tanto nos EUA como em Israel. Mulheres que quase apanharam para poder colocar tefilin e falar sobre Deus como uma figura menos masculina.
Neste encontro não houve nenhum convidado externo que viria nos ensinar. Tudo foi organizado por mulheres para mulheres. Algo muito diferente do que o que temos tradicionalmente no judaísmo, no qual por séculos foi escrito de homens para homens.

O rabinato é um caminho muitas vezes solitário, no qual escutamos, acolhemos e ensinamos. No entanto, temos poucas oportunidades para compartilhar nossas dificuldades e nossas experiências. O rabinato no Brasil, dentro do Movimento Masorti, é pequeno. O rabinato feminino no Brasil, minúsculo. Por isso foi uma bênção poder ter tido a oportunidade de passar quatro dias com outras rabinAs. Mulheres fortes que enfrentam desafios diários, sendo em seus trabalhos ou tentando equilibrar a vida profissional e familiar.

A experiência de estar compartilhando momentos de reza em uma sinagoga com quase 65 mulheres é realmente algo diferente do que eu já tinha vivido antes. Os espaços de estudo apenas com mulheres funcionam de uma forma diferente. Ninguém alí precisava “marcar território”, ou levantar a voz para garantir ser ouvida, o que acontece com a maioria, senão todas, as mulheres no mercado de trabalho. Compartilhamos experiências difíceis e conquistas, sem nenhuma pretensão de que depois alguém diga “UAU”, mas pelo simples fato de poder compartilhar e poder trocar experiências e aprender umas das outras.

Eu nunca tinha tido a oportunidade de estar em um encontro só feminino, inclusive talvez tenha desdenhado este tipo de iniciativa, em minha ânsia de dizer que o mundo feminino e o masculino não precisam ser tão separados assim. Mas este encontro me mostrou que estou errada, pelo menos por enquanto. Um encontro só de mulheres tem outra vibração, outra energia e permitiu que todas nós tirássemos nossas armaduras do dia a dia para simplesmente poder estar lá.

Talvez cheguemos a um momento no qual a diferença entre o masculino e o feminino esteja apenas na genética. Hoje ainda não estamos lá. Mulheres precisam apoiar outras mulheres para que elas possam crescer fortes e se desenvolver em um mundo no qual a lógica é masculina (não necessariamente machista, apenas masculina). Ouvimos as histórias umas das outras sem necessidade de comparar uma experiência com a outra. Elas eram simplesmente genuínas.

Mais de um vez fomos convidadas a dar e receber brachot (bênçãos) entre nós mesmas. Sempre havia no ar o desejo de esperança, de coragem, de força, de sensibilidade e acolhimento entre todas.
Honestamente não sei se consigo colocar em palavras o encantamento que vivi nestes dias. Não sei se tenho as ferramentas necessárias para expressar o sentimento de união, de acolhimento, de resiliência, de cumplicidade e especialmente de alegria. Uma alegria genuína entre todas nós de podermos estar compartilhando este momento histórico.

O encontro se chamava Shearim, portões, com a ideia de que os portões haviam sido abertos. Segundo as palavras da primeira presidente mulher da RA estes portões não foram abertos, foram derrubados.
Saímos todas extremamente fortalecidas e inspiradas.

Tenho certeza de que o eco deste encontro ainda viverá em mim por muito tempo, e espero poder conseguir transmitir o brilho e a energia que permearam estes quatro dias para nossa Comunidade Shalom, e especialmente para as futuras gerações de meninas para que possam crescer convictas de que podem ser quem elas quiserem.

Fri, 28 November 2025 8 Kislev 5786