Newsletter da Comunidade Shalom

Estamos a duas semanas do início do novo ano, bem no meio do mês de Elul. Durante todo esse mês escutamos o toque do Shofar, que é também a principal mitzvá da festa de Rosh Hashaná, que na Torá, recebe o nome de Dia do Toque do Shofar.

Durante todo esse período o toque do Shofar vem nos preparando, vem nos despertando para a grande oportunidade que se abre para nós em Rosh Hashaná. Uma oportunidade de começarmos um ano novo com novos projetos, novos caminhos, mas o mais importante de tudo, um ano novo com possibilidade de reconciliação. Reconciliação com nós mesmos, com os outros, com a tradição e com Deus.

Nem um projeto novo nasce de repente, nem uma reconciliação verdadeira é repentina. Precisam de trabalho. O toque serve para ir lapidando esses caminhos, esses relacionamentos. Um golpe muito forte e repentino, provoca uma quebra difícil de consertar. É como um preparo físico, que começa lentamente até chegar aos 100 toques de Rosh Hashaná.

Vamos subindo essa escada, degrau por degrau até chegarmos ao topo da montanha, em Rosh Hashaná e escutamos o Shofar. O som que vinha nos convidando a cada passo, agora ecoa por todos os lados. Abrindo nossos corações para dar e para receber.

Se fecharmos os olhos poderemos escutar com o coração. Escutar o som do choro que sai do Shofar, nos lembrando dos momentos de tristeza, das dores, das perdas, da saudade, dos desafios, de alívio, das conquistas, dos reencontros, das alegrias e de felicidade. Nossos olhos são portas do nosso coração. Eles são os que melhor expressam o que estamos sentindo, mesmo quando não queremos demonstrar.

O Shofar faz o choro coletivo, o choro da tradição entrar pelos nossos ouvidos e acessar nosso próprio choro. Que pode sair em forma de lágrimas, mas também de sorrisos, de abraços e uma enxurrada de emoções. Se deixarmos, cada toque, desde o início de Elul até o último toque que escutaremos quando termina Iom Kipur, vai ao mesmo tempo abrir e curar as feridas do ano que passou.

A mitzvá é ouvir o toque. Não apenas deixar que o som entre pelos ouvidos. Mas escutar. E talvez, trabalhando nossa arte de escutar, poderemos contribuir para um ano que entra mais pacífico, mais harmônico, com mais tolerância e amor a nós mesmos e ao próximo. Que possamos treinar nossos ouvidos para uma escuta mais ligada ao coração, às emoções e a possibilidade de vislumbrar um futuro melhor para nós e todos os que nos rodeiam.

Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik