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Jerusalém de Paz

27/05/2022 02:36:41 AM

May27

Aqueles entre nós que vivenciaram os eventos de junho de 1967 nunca se esquecerão deles.


As emoções que sentimos quando a antiga cidade de Jerusalém e especialmente o Kotel
passaram às mãos dos israelenses foram subjugantes e continuam conosco até hoje. Sendo
alguém que admite livremente que chegou a chorar devidas às notícias e ainda fica
emocionado quando se lembra delas, eu frequentemente me pergunto porque isto acontece.


Eu não tenho culpa do que Leibowitz chamou de “kotel idolarty”. Vou lá somente de vez em
quando e tenho conhecimento de que isto não é nada mais que um muro do Templo de
Herodes, que era de pouca santidade.


Também sei que as várias histórias que os sábios contavam sobre o “muro ocidental”, se
referiam ao muro ocidental do Sagrado dos Sagrados que não foi destruído em 70 E.C, mas
que continuou existindo por muitos anos depois e não ao atual “muro ocidental”.


Entretanto, o retorno da antiga Jerusalém ao controle judaico foi sem dúvida um ponto
importante na história judaica e nas vidas pessoais de tantos de nós.


Eu acho que a razão é que este evento significou e simbolizou uma retificação de milhares de
anos na história judaica. É como se anos de opressão, de sofrimento e de vagar, de
degradação e de não ter um lar, de repente tivessem se revertido. Os anos de separação
destes locais sagrados, desde 1948 até 1967, somente exacerbaram os sentimentos de
opressão.


Nós tínhamos nosso próprio Estado, mas não podíamos nem sequer visitar o local mais
importante da nossa religião e história. Quantas vezes esticamos os nossos pescoços para
ver alguma coisa desde as alturas do Monte Zion ou de qualquer outro lugar.
Nós nos sentimos como Moisés, que podia ver a terra de longe, mas que não podia ir lá. E
então, é lógico, houve os dias negros antes da guerra, onde havia um sentimento no mundo
judaico de que – o céu proibido – Israel poderia ser destruído e a Shoá então estaria
completa.


O contraste entre isto e o que realmente aconteceu, aumentou o sentimento de triunfo quando
o inacreditável aconteceu. Não seria exagerado dizer que a definição de Martin Buber sobre
um milagre se realizou:
O verdadeiro milagre significa que, na surpreendente experiência do acontecimento, o sistema
atual de causa e efeito se tornou transparente e permite um olhar rápido para a esfera na qual
um único poder, não restringido por nenhum outro, está funcionando. Moisés p. 77
Assim como as gerações do Êxodo, que vivenciaram a redenção tão completamente que
sentiu a “mão de Deus”, da mesma maneira a nossa geração foi privilegiada para vivenciar
este sentimento. Esta foi e continua sendo uma experiência transformadora.


Entretanto, não podemos permitir que a emoção controle as nossas vidas e, assim como o
Rambam ensinou, moderação é sempre apropriada para todas as coisas.


O retorno a Jerusalém e ao Kotel levou a sonhos quase messiânicos de “Toda a Terra de
Israel” e, ainda mais, sonhos que não sobreviveram à realidade e que, enquanto
despedaçados pelo menos em parte, ainda deixam a sua impressão em certos segmentos da
população e estão de pé no caminho da paz.


Isso também levou a grupos extremistas, que sonham em reconstruir o Templo, mesmo ao
custo de causar uma guerra religiosa entre judeus e muçulmanos que estavam em controle do
Monte do Templo.


Sem entrar na complexa questão de qual seria o lugar para reconstruir o Templo no Judaísmo
e se isto incluiria ou não sacrifícios, devemos ter cautela com estes sonhos para levar a
realidade em conta e para pensar nas consequências dos seus atos.
Durante os últimos 2000 anos, o judaísmo se acautelou contra sonhos messiânicos não
realistas e advertiu contra ações extremas. Não muito tempo depois da destruição do Templo,
Rabán Iochánan ben Zakai é citado por ter dito:
“Não destruam os altares para que não tenham que reconstruí-los com suas próprias mãos.
Não destruam aqueles de tijolo para que eles não lhes digam para fazê-los de pedra. Se você
estiver fazendo algo de importante e lhe disserem “veja o messias” acabe primeiro o que
estiver fazendo e depois vá ver o Messias.


Se os jovens te disserem “Deixe-nos ir e construir o Templo” não lhes dê atenção. Se os mais
velhos te disserem, “Deixe-nos ir e destruir o Templo”, preste atenção a eles, porque a
construção dos jovens é destruição e a destruição dos mais velhos é construção.”
Avot De Rabi Natan B 31.


Quando o Rei David, o ungido de Deus, o futuro rei, quis construir o Templo, ele não tinha
capacidade para fazê-lo. Como ele mesmo explicou a Salomão, “As palavras do Senhor
vieram a mim, dizendo, Tu derramaste muito sangue e travaste grandes batalhas; tu não
construirás uma casa no meu nome, pois derramaste muito sangue sobre a terra, diante de
mim. (Crônicas 1, 22:8).


Somente a um rei cujo próprio nome era paz – Shlomo – seria permitido construir a casa de
Deus, uma casa (ou pelo menos um altar) que deveria ser construído sem o uso de
instrumentos de ferro, símbolo de guerra (Êxodos 20:22).


Certamente a nossa geração é uma geração de sangue e de guerra. A construção do Templo
terá que esperar até o dia em que houver paz e em que possa ser construído sem o
derramamento de sangue.


Então, e somente então, a profecia de Isaías poderá se cumprir, “Minha casa será uma casa
de oração para todos os povos” (56:7).


Enquanto isso, não temos motivo para estarmos tristes. Pelo contrário. Somos uma geração
que presenciou grandes acontecimentos. Será que não deveríamos dizer “Daieinu” – porque
de todas as gerações desde o ano 70 E.C. em diante, somente a nossa geração testemunhou
– mesmo que somente em parte – o retorno a Tzion, que foi o sonho dos nossos ancestrais.

 

Rabino Reuven Hammer

Thu, 26 June 2025 30 Sivan 5785