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30 Anos Y´Zeit do Rab. Dr. Fritz Pinkuss

04/04/2024 02:11:22 PM

Apr4

Em setembro de 1936 aportou em Santos um jovem rabino de 31 anos, acompanhado de sua mãe Frida, da esposa Lotte e de um bebê, Michael, todos via carta de chamada de seu irmão Kurt, que já se encontrava no Brasil. Sua missão era se juntar a um grupo de recém-emigrados da Alemanha nazista e fundar uma comunidade.

Pinkuss havia demonstrado sua vocação para rabino apesar das reservas de sua família desde cedo. Iniciou seus estudos no Seminário Judaico de Breslau, de orientação próxima ao que seria Massorti hoje, não se deu bem e após poucos semestres seguiu para Berlim, na Hochschule, de orientação próxima à Reforma, que foi sua orientação preferencial. Em paralelo completou seu doutorado em filosofia.

Na Alemanha, durante os estudos, estagiou em diversas comunidades, inclusive em Heidelberg onde o rabino titular era seu tio, Hermann. Como esse adoeceu, acabou dando maior cobertura à comunidade, o que atrasou sua formatura em 1930. A piada na comunidade judaica de Hiedelberg era que seus judeus eram súditos da dinastia rabínica dos Pinkuss.

Pinkuss tinha um agudo senso histórico do ambiente circundante na Alemanha. Desde logo procurou concentrar os recursos comunitários para ajudar àqueles que estivessem dispostos a emigrar, por estar consciente que na Alemanha nazista não havia futuro judaico. Um exemplo: quando marcou viagem de emigração da Alemanha, pediu à diretoria da comunidade levar consigo, a salvo, os documentos da fundação da comunidade. A diretoria recusou e estes foram queimados na Noite dos Cristais. Sobraram apenas fotocópias que ele havia providenciado por sua iniciativa. Hoje cópias dessas cópias foram doadas aos arquivos do Museu Judaico de São Paulo e do Museu Judaico de Berlim. Seu senso histórico o levou a marcar a saída da Alemanha nazista durante as Olimpíadas de 1936, quando tinha a convicção que a repressão nazista recrudesceria.

No Brasil foi formada a CIP, que contou com o apoio precioso de grupo de judeus alemães já imigrados há mais de dez anos - famílias Lorch, Krauss, Zausmer e Zolko. Esse núcleo futuramente criou uma Chavurá de nome “Shalom”, precursora da atual Comunidade Shalom, que sempre teve ligação cordial com Rab. Pinkuss.

Sob sua orientação na CIP foram instituídos: sinagoga e posteriormente livros litúrgicos com tradução portuguesa, Chevra Kadisha (pois as premissas rituais encontradas estavam longe dos seus princípios),ensino religioso, apoio administrativo a novos imigrantes, auxilio para colocação em empregos, financiamento a empreendedores(com apoio da Joint),serviço social, Lar das Crianças, biblioteca que era igualmente local de palestras culturais e encontros, e um boletim informativo. Posteriormente incorporou a ideia do “summer camp” de inspiração norte-americana.

A premissa era que a CIP não seria uma cópia do passado alemão, mas sim uma comunidade baseada nos ensinamentos do judaísmo alemão, que seria um instrumento para auxiliar novos cidadãos judeus a criarem raízes no Brasil. Não seria uma comunidade apenas de judeus alemães e acabaria por ser uma das maiores comunidades no mundo, fundada por judeus alemães. Desde o início, muitos sermões eram proferidos no idioma português. Em época posterior, houve sua ação na criação da área de hebraico no setor de línguas orientais na USP e na construção da sede e sinagoga. Em resumo, Pinkuss havia chegado ao Brasil com um projeto muito bem delineado.

Deve ser notado que nem tudo que havia planejado foi bem sucedido. Embora de origem diversa, teve sintonia com Rab.Marshall Meyer do Seminário Rabínico Latino-americano, no sentido de ancorar o futuro com rabinos de origem e formação latino-americana, mas seu projeto foi inviabilizado por fatores supervenientes. Isto o deixou muito machucado.

Faleceu em 12 Adar de 1994 aos 88 anos.

Escrito por Michael Pinkuss em março de 2024

Thu, 26 June 2025 30 Sivan 5785